As
nádegas abanam, despescam sobre si, enquanto ao perto, de lupa, ou de óculo
graduado umas celulites pipocam reveles, com a perfeita noção que a patroa ao
erguer uma das bochechas para o espelho, num esforço maior que humano, o
pescoço a gingar, a estalar da pressão quando preso numa viragem de centro e
oitenta graus,
- o
manel assim nã me pega,
o
manel na tasca entre os despojos de uma tarde, traçadinhos e minis deglutidas
num só tom, naquele que o copo faz ao embater na madeira da mesa gasta pelo
tempo, de rebordo inchado, os pés toscos que se apoiam tepidamente nos azulejos
monocromáticos, um paq oco, e, aquele
som tão normal ao engolir, o paq inda
a chegar e já a garganta gritava por mais um, sempre seca, sequiosa como uma
vulva viúva, a alzira,
- o manel assim nã me pega,
enquanto
no espelho onde as celulites cresciam, bem visível ao olho da alzira,
aumentavam em directo, cientes da sua importância, a relevância a elas
oferecida numa salva pela alzira neste preciso momento no tempo contínuo, e,
espetem neste estar com a teoria das cordas e um milhar de alziras,
(um milhar de alziras minhas, só minhas,)
que dançam de
nádegas a abanar noite e dia fora, que na minha mente dançam entre estantes
cheias de pós, de espanador numa mão, enfiadas com a violência do martelo na
bigorna num daqueles equipamentos do fantástico juvenil vosso,
(meu,)
de saia curta,
inda que ela dada aos ensinos consuetudinários obsoletos,
-
como quê,
pergunta,
minha
cara alzira como a fidelidade,
-
ai o meu manel assim nã me pega,
de
saia curta, inda que ela dada aos ensinos consuetudinários obsoletos assim como
a fidelidade, como o desejo unilateral de agradar ao manel, e, ele enfiado de
tasca em tasca, a correr as capelas todos os dias, das nove às três da matina,
traçadinhos, minis, tremoços e putas, o jantar dos campeões, e, quando entra em
casa, sobe o dedo grande do meu pé, a custo enquanto as mão parecem guelras, e
as rótulas, não uma que trepa, não duas com a vizinha que lhe faz sombra, sete
a multiplicar por sete e um arroto, um cheiro a bagaço que mesmo enquanto já
durmo sentado numa cadeira escarlate, num veludo felpudo que roça em mim e diz,
-
quentinho ai que bom,
se
infiltra nas narinas, me acordo e me cria secura nas amígdalas, enquanto lá
dentro, atrás do diencéfalo a alzira na cama de penas de papagaio ergue também
uma narina, embora pequena, ínfima, uma narina que talvez a olho nu pouco mais
corpo possua que a cabeça de um alfinete inda assim o cheio de fininho, já que
um corpo caquéctico para lá dentro se enfiar, abre caminho e a alzira,
- o
meu manel,
pensa
inda no espelho,
-
assim o meu manel nã me pega,
para
acalmar a pele de galinha,
-
vai pegar vais ver,
agora
pendurado o manel num sexo caído, um pé no umbigo, os dentes nos mamilos, um
esticão no ombro, e, uma orelha à vista, umas mãos incertas, uns pés com pouca
segurança e de repente cá dentro,
a
alzira que nunca pára durante o dia, numa roda viva, enquanto arruma as cousas
onde têm que estar, limpa os tomos abandonados pelo tempo, mete tudo em gavetas
devidamente catalogadas, por tema, por autor, por ano, por edição, cores
diferentes, madeiras diferentes para cada área: ciências sociais vermelhas,
matemática amarelo, política verde, desporto cor-de-rosa, literatura branco,
pintura azul, música púrpura, a alzira sempre pronta, com o tony a sombrear
seus ouvidos, de espanador ao alto, uma gata que mia, uma cadela que ladra, um periquito
que sempre esteve no mesmo sítio, e, numa roda viva move-se dia fora, o manel
levanta-se às onze sem antes roncar para o aspirador que já bulia sem aparentar
ter tecto à vista, de olhos inchados, vermelhos, de dentes sujos, gengivas
remoídas com tons negros pouco aconselhados pela dentista, já que quando ele de
boca aberta,
- o
senhor tem que para de fumar, estes dentes estão negros, estas gengivas daqui a
pouco não seguram dente algum e vai terminar os seus dias a beber por uma
palhinha,
um
passo na rua, um olá do sol e um cigarro taxado no espaço entre dois incisivos,
um maço de pall mall azul vazio atirado para a sarjeta, uma cuspidela no
alcatrão, uma coçadela no dito, e, ginga para a capela onde em voz grossa, de
sorriso branco,
-
um traçadinho, uma mini e continue a mandar vir,
enquanto
almoça a alzira olha para o espelho, enquanto dança ao som do tony e enxota
moscas, libélulas, mosquitos, centopeias, teias de aranha e aranhas, enquanto
enxota bichos sem nome que comem as palavras, eu procuro e acabo,
-
não sei,
olho
para dentro,
-
senhora alzira sente-se num banco se faz o favor,
-
patrão existe algum problema,
-
sabe o que é pior do catalogar mal as palavras?,
-
não patrão,
- é
deixá-las estragar, hoje questionaram-me e eu convicto que a resposta estava
aqui procurei e procurei, cansei os joelhos quando de gatas não parava de abrir
arrumos para finalmente desaguar sabe no quê?,
-
não patrão, para quê no quê, nã entendi
bem,
-
alzira a minha resposta foi não sei,
-
ai patrão não me diga,
-
digo digo, já lhe disse veja lá,
-
como?,
o
manel sentado enquanto trocava euros por dólares, e uma manada de notas de um
dólar na mão, traçadinhos sem conta, as minis esgotaram e o George Washington
que olhava o manel,
-
és bem boa,
o
manel para a nota enquanto a atirava para o palco, do outro lado um olhar de
esguelha como quem,
-
só isto?,
a
alzira era boa moça, é boa moça, vive na mente de um tolo, trabalha como uma
burra de carga, já que enquanto olho os pinheiros, não olho somente, constato
variantes maradas que a deixam confusa e tonta, inda assim cerra os dentes e
sem um protesto faz das tripas coração e lança-se à empreitada com uma coragem de
leoa, dia e noite arruma como pode o que guardo a chave de ouro, o que sei, o
que irei concluir, o que descobri, dia e noite, nas parcas horas vagas olha-se
ao espelho, aperta mais o corpete, os seios cuspidos quase para fora do corpo,
observa cada centímetro tudo com o desejo singelo, honesto de que quando o
manel sem mais notas de um dólar para pagar traçadinhos, minis e putas regresse
a casa, e com as botarras pesadas pejadas de insectos que despencavam da minha
orelha, para onde foram varridos à cousa pequena de meia dúzia de segundas pela
boa alzira e sem cuidado de novo devolvidos ao quente pelo manel, e, mesmo
assim um sorriso na boca suja, ou pintada à espera dele, inda assim esperança
derramada dos poros, uma esperança que o manel ao dar à costa, quando já passam
das três da matina,
-
alzira poe-te a jeito que me apetece pegar-te bem,
mas
de lá um arroto, um jorrar de vomitado, uma golfada prodigiosa admito em cima
da prateleira do Platão, do Cícero, do Aristóteles,
(enquanto me amanho com esquecimentos
súbitos, enquanto me perco entre doutrinas, quando dentro duma e de repente ao
relento sem saber como, quando e porquê,)
e o,
-
assim o manel não me pega,
sai-lhe
da boca, mesmo quando o manel em nada poderia pegar já que o bicho estava à
muito comatoso, entupido de tanto traçadinho e tremoço,
inda
assim quando já passam das três da matina, a alzira troca o corpete e as ligas
pelo fato caricato de empregada latina, coloca a capa do cliché, pega no espanador,
liga o aspirador, aumenta o volume do tony, acorda a cadela, o gato, e, mesmo o
periquito que quando dorme está na mesma pose que quando acordado, e acomete-se
ao manel, a custo atira-o para a cama
despe-lhe a roupa com aquele fedor a triste, a álcool com vontade de papar uma
puta comprada com duas notas de um dólar, aquele aroma a frustração e
existência vaga, um odor a maratonista de capelas, uma mistela de suor com
orgasmos vagos, orgasmos que são uma cópia pirata do quebrar das ondas numa
praia fluvial, tira-lhe as cuecas onde não esconde um olhar glutão ao couso
raquítico comido por uma penugem velha e de pontas espigadas, inda assim um
olhar glutão, afinal a alzira dedica-se com um afinco de proletária a todas as
suas tarefas e deveres, já o manel devidamente acautelado, o chá pronto para
quando despertar, os comprimidos da ressaca na cabeceira num pires ao lado de
um copo de água meia vazio numa espera no topo de um guardanapo de papel folha
dupla, já de joelhos a esfregar o que secava em cima dos ditongos dos clássicos
que desapareciam da minha memória,
(sabes alzira és um cliché mas sem ti a
mente deambulava por ramos perdidos, e, navegava numa eterna espera para encontrar o verbo certo, a definição
concreta para o que me questionam, quando via os pinheiros numa aldeia perdida
no tempo sem ti veria velhos velhacos, rudes nas arestas, contigo vejo uma
aldeia que parada no tempo papa tradições com uma vontade de suster uma
avalanche de novos ares e ideias, sem ti em Moledo veria um mar de rochas, e,
no topo uma montanha sem vulcão, contigo vejo um ser vivo que respira, que enche
e foge humilde, ausente a noção durante este verão do poder que encerra nos
seus braços, vejo rochas que acumulam anos como o manel cascas de tremoços, vejo uma montanha
que visita as nuvens, e, durante as tardes aborrecidas senta-se num sofá de perna cruzada e se
diverte a pedir-lhes que emitem coelhos em cópula, gafanhotos em cópula, sem ti
alzira era tão mais obtuso, mas confesso que em ti, quando a menina-do-olho
aponta para fora e a ti te vejo, um ponto, um borrão na lente, inda assim sei
que és tu, e, quando te vejo sei o que és, és uma tara, és um broche de uma
freira, um broche de uma irmã carmelita que nas horas vagas me oferece saber,
um mojito, um broche e um tomo de Tchekhov.)
*Sem acordo.
Cumprimentos,
NR